A FIDELIDADE DO SENHOR
PARTE III
Uma lembrança engraçada
desta ocasião é que muitos colegas me perguntavam de onde eu era e eu respondia
com um orgulho espantoso que era de “Campina Grande, a Capital do comércio paraibano” não
sei de onde vinha tanto orgulho, pois tudo que eu queria era sair de lá?! Tempos
depois fui trabalhar em uma oficina de lanternagem e pintura de automóveis que
ficava na mesma rua onde morávamos, lá trabalhei como ajudante de pintor,
preparando os carros para a pintura.
Nesta época aconteceu
uma coisa muito divertida: certa vez na hora do lanche da oficina, ocorreu uma
aposta entre eu e o pintor, e acabei comendo seis pães do tipo bisnaga, - o que
equivale hoje a três pãezinhos de cinquenta gramas - com refrigerante, isto se
tornou publico e por muito tempo sofri gozações pelo feito.
Eu andava muito de
bicicleta que eram sempre de algum dos primos, e sofria várias quedas, numa
destas quedas eu machuquei a perna (canela) direita, e seguindo orientações
irresponsáveis apliquei thinner -
solvente - usado para diluir tintas, sobre o ferimento e esta atitude me causou
uma ferida que permaneceu por muito tempo e que só mesmo por milagre de Deus
não gangrenou, ainda tenho as marcas na perna, nesta época também conheci
algumas pessoas da vizinhança que para mim eram muito legais, na verdade não eram más pessoas, mas gostavam muito de
uma cerveja e como eu era um “José vai
com os outros” fui com eles, e logo já estava super acostumado com a bebida
e também com o cigarro, e frequentando também lugares do mais baixo nível em
Nova Iguaçu, depois de algum tempo fui chamado por um primo para trabalhar
ajudando na feira, todos os primos trabalhavam na feira, eu fui e me adaptei
muito bem e facilmente ao tipo de trabalho, acordava as três ou quatro horas da
manhã e voltava as três ou quatro horas da tarde. Depois fui trabalhar ainda na
feira com uma outra pessoa que não era da família, neste período aprendi a
dirigir, (meu outro sonho era ser
motorista de caminhão) sem que ninguém tivesse de fato me ensinado, aprendi
apenas observando e perguntando as funções dos pedais, e marchas, de repente
comecei a efetuar pequenas manobras, até que um dia um colega de trabalho ficou
do lado de fora da Kombi e me ajudou a manobrá-la, daquele dia em diante
comecei a tomar gosto e coragem, tomei tanta coragem que um dia fui sozinho
dirigindo uma Kombi velha, sem documentação pessoal nem habilitação, até a
feira de Ipanema, vindo a levar uma bela bronca do marido de uma prima que
trabalhava na mesma feira. uma semana depois descobri que esta Kombi estava com
defeito nos freios e na caixa de direção, tempos depois já habilitado, saí do
bairro das Laranjeiras indo pra Jacarepaguá, em outra Kombi esta um pouco mais
nova, segui caminho pela serra Grajaú–Jacarepaguá, para descer a serra resolvi
colocar a Kombi em ponto morto (banguela), - isto não se faz em hipótese alguma
muito menos em descida de serras, - fiz a primeira curva com certa facilidade
uma beleza! Já na segunda senti
que o carro não reduzia a velocidade, percebi que o motor havia apagado
(morrido) e não havia mais freios, Graças a Deus tive o sangue frio de jogar
lentamente a Kombi para o acostamento e em seguida no barranco alto do lado
direito, ao mesmo tempo em que pisava com os dois pés no freio, consegui
finalmente parar. Lembro que subia um cheiro forte de lona de freio queimada,
daí em diante desci a serra toda em terceira marcha e com o pé no freio. Sou
realmente alvo do amor de Deus.
Neste período também
descobri o quanto é ruim morar na casa dos outros, mesmo que sejam parentes;
sem falar que eu queria fazer o que me dava na cabeça, beber, chegar tarde em
casa, não ajudar nas despesas, não demonstrar busca por melhoria pessoal,
enfim, pensava que ainda estava em casa de minha mãe e que as pessoas tinham
que me aceitar como eu era, ai começou ficar difícil o convívio, reconheço
minhas culpas.fui um péssimo hóspede.
Varias vezes discutia
com meus primos, outras vezes chegava tarde em casa e a minha comida estava
sobre o fogão, quando destampava, haviam baratas andando por cima da
comida, então eu não comia, no dia seguinte era briga certa, pois eu não poderia
desperdiçar comida, elas tinham razão.
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Em um domingo de Maio de
Mil Novecentos e Oitenta e Três estávamos indo para feira e sofremos um
acidente de automóvel, o Fusca do meu primo em que estávamos, foi atingido por
outro carro - uma Brasília - que dirigido por uma pessoa alcoolizada nos
atingiu de frente, nos jogando em direção a um posto de gasolina, quase
atingimos a bomba de abastecimento, estávamos no carro eu, e mais três primos,
um nada sofreu, um outro sofreu fratura de bacia e teve hemorragia interna,
tendo que passar por cirurgia e o terceiro quebrou o braço esquerdo atingido
por uma cabeçada minha. Fiquei um tempinho sem poder beber devido a medicação
que havia tomado, para tratar o corte que levei na boca, mesmo assim fui ao bar
jogar uma sinuquinha, lá um dos colegas
de bar pediu para eu pagar uma rodada de cerveja, eu me neguei pois na podia
beber, e não considerava justo pagar e ficar olhando, este colega depois de
sair do bar me cercou na rua me agredindo verbalmente e quase partindo para as
vias de fato, por eu não ter pago a rodada,
Belos “amigos” eu tinha.
Outra coisa relevante
desta época foi algo que me assustou: um dia ao sair do mesmo bar que sempre
frequentava, dei de cara com uma pessoa bêbada na rua, esta pessoa vinha em
minha direção, este homem estava armado com um revolver, e do nada ele apontou
em minha direção e fez dois ou três disparos, eu gelei. Pela graça de Deus
aquela arma falhou, eu nunca havia visto aquele homem, que assim como veio
desapareceu. Deus realmente me ama!
Nesta época eu estava
trabalhando na feira com um primo, que foi quem sofreu o maior dano no
acidente, em todo o tempo em que ele esteve afastado eu assumi o seu lugar na
feira. Ele esteve afastado por uns quatro meses ou mais, durante este período
de internação e de visitas ao hospital conheci a outra parte da família da
esposa do meu primo, e junto conheci aquela que entraria e mudaria definitivamente na minha historia.
Ela parecia uma
bonequinha de porcelana, branquinha, miudinha, aparentado (só aparentando) uma fragilidade imensa. Sempre que íamos visitá-lo
esta menina estava junto,
e uma tia dela sempre brincava dizendo que seriamos namorados, isto me deixava
muito envergonhado, acho que a ela também, pois apesar de não parecer, eu era
muito tímido.
Um belo dia eu fui
abastecer o fusca do meu primo e chamei esta menina pra ir comigo ela aceitou o convite, só que temos uma
prima em comum, filha do meu primo com a tia desta menina, esta prima ouviu o convite e quis ir também, isto custou um
par de brincos para manter silencio.
aquela menina passou então a frequentar com
mais assiduidade a casa da tia a pretexto de ajudar nas lides da casa, eu
sempre me mantendo distante pois as brincadeiras daquela sua tia me deixava
cada vez mais tímido, a menina até
tentava puxar assunto comigo mas eu me mantinha arredio, certa vez em uma das
visitas ao meu primo ela voltou - como sempre - de carona no carro que eu
dirigia, ela sentou no lugar do meio do assento traseiro, ficando exatamente na
direção do espelho retrovisor interno, toda vez que eu olhava no espelho lá
estavam seus olhos a olhar nos meus, - lembro
exatamente da sensação de encontrar com seus olhos, isto graças a Deus, ainda
me causa o acelerar do coração - mas
eu rapidamente desviava o olhar, mais um pouco e lá estava eu olhando no
retrovisor de novo, e lá estavam aqueles olhos lindos, no radio tocava uma
musica que de certa forma passou a ser a nossa musica, era a musica “anjo”
do grupo Roupa Nova, um grande sucesso da época – “se
você vê estrelas demais, fique em silêncio não volte atrás, chega perto e diz:
anjo, bem mais perto e diz, anjooo!” - depois de algum tempo
começamos então de fato a namorar.
Algum tempo depois da
recuperação do meu primo, fomos a um sítio na cidade de Magé, com o
objetivo de pagar promessas feitas pela
esposa deste meu primo, na volta ele
voltou dirigindo, o que me deixou um pouco entristecido por não dirigir no
retorno.
Meu primo enfim se restabeleceu voltou à
feira, tempos depois eu sai da feira, não porque quisesse sair, mas pelo fato
de meu primo não poder mais pagar o salário mínimo da época, que foi aumentado
pelo governo para CR$ 97,000.00 (noventa e sete mil cruzeiros)!!! Nesta época eu
sequer tinha todos os documentos, aquela menina,
agora minha namorada, me incentivou
e ajudou indo comigo para tirá-los, até então eu só havia tirado o certificado
de reservista e a carteira de motorista categoria “B”, com os documentos em
mãos, consegui por indicação de um amigo da rua um emprego, fui então trabalhar
no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, contratado por uma empreiteira; meu
serviço: reparos navais, entenda-se por limpar fossas das embarcações, raspagem
de crustáceos dos cascos, limpeza de tanques de petroleiros, e outro que se
encaixavam no contrato, era um trabalho pesado e sujo.
Nesta época conheci
pessoas que moravam em albergues ou na rua, outros que eram viciados e que
trabalhavam ali, foi um período de livramentos, pois as influências eram as
piores possíveis, mas Deus estava me guardando. Este emprego durou pouco
tempo talvez uns quatro meses.
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