sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR
PARTE III

Uma lembrança engraçada desta ocasião é que muitos colegas me perguntavam de onde eu era e eu respondia com um orgulho espantoso que era de “Campina Grande, a Capital do comércio paraibano” não sei de onde vinha tanto orgulho, pois tudo que eu queria era sair de lá?! Tempos depois fui trabalhar em uma oficina de lanternagem e pintura de automóveis que ficava na mesma rua onde morávamos, lá trabalhei como ajudante de pintor, preparando os carros para a pintura.
Nesta época aconteceu uma coisa muito divertida: certa vez na hora do lanche da oficina, ocorreu uma aposta entre eu e o pintor, e acabei comendo seis pães do tipo bisnaga, - o que equivale hoje a três pãezinhos de cinquenta gramas - com refrigerante, isto se tornou publico e por muito tempo sofri gozações pelo feito.
Eu andava muito de bicicleta que eram sempre de algum dos primos, e sofria várias quedas, numa destas quedas eu machuquei a perna (canela) direita, e seguindo orientações irresponsáveis apliquei thinner - solvente - usado para diluir tintas, sobre o ferimento e esta atitude me causou uma ferida que permaneceu por muito tempo e que só mesmo por milagre de Deus não gangrenou, ainda tenho as marcas na perna, nesta época também conheci algumas pessoas da vizinhança que para mim eram muito legais, na verdade não eram más pessoas, mas gostavam muito de uma cerveja e como eu era um “José vai com os outros” fui com eles, e logo já estava super acostumado com a bebida e também com o cigarro, e frequentando também lugares do mais baixo nível em Nova Iguaçu, depois de algum tempo fui chamado por um primo para trabalhar ajudando na feira, todos os primos trabalhavam na feira, eu fui e me adaptei muito bem e facilmente ao tipo de trabalho, acordava as três ou quatro horas da manhã e voltava as três ou quatro horas da tarde. Depois fui trabalhar ainda na feira com uma outra pessoa que não era da família, neste período aprendi a dirigir, (meu outro sonho era ser motorista de caminhão) sem que ninguém tivesse de fato me ensinado, aprendi apenas observando e perguntando as funções dos pedais, e marchas, de repente comecei a efetuar pequenas manobras, até que um dia um colega de trabalho ficou do lado de fora da Kombi e me ajudou a manobrá-la, daquele dia em diante comecei a tomar gosto e coragem, tomei tanta coragem que um dia fui sozinho dirigindo uma Kombi velha, sem documentação pessoal nem habilitação, até a feira de Ipanema, vindo a levar uma bela bronca do marido de uma prima que trabalhava na mesma feira. uma semana depois descobri que esta Kombi estava com defeito nos freios e na caixa de direção, tempos depois já habilitado, saí do bairro das Laranjeiras indo pra Jacarepaguá, em outra Kombi esta um pouco mais nova, segui caminho pela serra Grajaú–Jacarepaguá, para descer a serra resolvi colocar a Kombi em ponto morto (banguela), - isto não se faz em hipótese alguma muito menos em descida de serras, - fiz a primeira curva com certa facilidade uma beleza! Já na segunda senti que o carro não reduzia a velocidade, percebi que o motor havia apagado (morrido) e não havia mais freios, Graças a Deus tive o sangue frio de jogar lentamente a Kombi para o acostamento e em seguida no barranco alto do lado direito, ao mesmo tempo em que pisava com os dois pés no freio, consegui finalmente parar. Lembro que subia um cheiro forte de lona de freio queimada, daí em diante desci a serra toda em terceira marcha e com o pé no freio. Sou realmente alvo do amor de Deus.
Neste período também descobri o quanto é ruim morar na casa dos outros, mesmo que sejam parentes; sem falar que eu queria fazer o que me dava na cabeça, beber, chegar tarde em casa, não ajudar nas despesas, não demonstrar busca por melhoria pessoal, enfim, pensava que ainda estava em casa de minha mãe e que as pessoas tinham que me aceitar como eu era, ai começou ficar difícil o convívio, reconheço minhas culpas.fui um péssimo hóspede.
Varias vezes discutia com meus primos, outras vezes chegava tarde em casa e a minha comida estava sobre o fogão, quando destampava,  haviam baratas andando por cima da comida, então eu não comia, no dia seguinte era briga certa, pois eu não poderia desperdiçar comida, elas tinham razão.

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Em um domingo de Maio de Mil Novecentos e Oitenta e Três estávamos indo para feira e sofremos um acidente de automóvel, o Fusca do meu primo em que estávamos, foi atingido por outro carro - uma Brasília - que dirigido por uma pessoa alcoolizada nos atingiu de frente, nos jogando em direção a um posto de gasolina, quase atingimos a bomba de abastecimento, estávamos no carro eu, e mais três primos, um nada sofreu, um outro sofreu fratura de bacia e teve hemorragia interna, tendo que passar por cirurgia e o terceiro quebrou o braço esquerdo atingido por uma cabeçada minha. Fiquei um tempinho sem poder beber devido a medicação que havia tomado, para tratar o corte que levei na boca, mesmo assim fui ao bar jogar uma sinuquinha, lá um dos colegas de bar pediu para eu pagar uma rodada de cerveja, eu me neguei pois na podia beber, e não considerava justo pagar e ficar olhando, este colega depois de sair do bar me cercou na rua me agredindo verbalmente e quase partindo para as vias de fato, por eu não ter pago a rodada,  Belos “amigos” eu tinha.
Outra coisa relevante desta época foi algo que me assustou: um dia ao sair do mesmo bar que sempre frequentava, dei de cara com uma pessoa bêbada na rua, esta pessoa vinha em minha direção, este homem estava armado com um revolver, e do nada ele apontou em minha direção e fez dois ou três disparos, eu gelei. Pela graça de Deus aquela arma falhou, eu nunca havia visto aquele homem, que  assim como veio desapareceu. Deus realmente me ama!
Nesta época eu estava trabalhando na feira com um primo, que foi quem sofreu o maior dano no acidente, em todo o tempo em que ele esteve afastado eu assumi o seu lugar na feira. Ele esteve afastado por uns quatro meses ou mais, durante este período de internação e de visitas ao hospital conheci a outra parte da família da esposa do meu primo, e junto conheci aquela que entraria e mudaria  definitivamente na minha historia.               
Ela parecia uma bonequinha de porcelana, branquinha, miudinha, aparentado (só aparentando) uma fragilidade imensa. Sempre que íamos visitá-lo esta menina estava junto, e uma tia dela sempre brincava dizendo que seriamos namorados, isto me deixava muito envergonhado, acho que a ela também, pois apesar de não parecer, eu era muito tímido.
Um belo dia eu fui abastecer o fusca do meu primo e chamei esta menina pra ir comigo ela aceitou o convite, só que temos uma prima em comum, filha do meu primo com a tia desta menina, esta prima ouviu o convite e quis ir também, isto custou um par de brincos para manter silencio.
aquela menina passou então a frequentar com mais assiduidade a casa da tia a pretexto de ajudar nas lides da casa, eu sempre me mantendo distante pois as brincadeiras daquela sua tia me deixava cada vez mais tímido, a menina até tentava puxar assunto comigo mas eu me mantinha arredio, certa vez em uma das visitas ao meu primo ela voltou - como sempre - de carona no carro que eu dirigia, ela sentou no lugar do meio do assento traseiro, ficando exatamente na direção do espelho retrovisor interno, toda vez que eu olhava no espelho lá estavam seus olhos a olhar nos meus, - lembro exatamente da sensação de encontrar com seus olhos, isto graças a Deus, ainda me causa o acelerar do coração -  mas eu rapidamente desviava o olhar, mais um pouco e lá estava eu olhando no retrovisor de novo, e lá estavam aqueles olhos lindos, no radio tocava uma musica que de certa forma passou a ser a nossa musica, era a musica “anjo” do grupo Roupa Nova, um grande sucesso da época – “se você vê estrelas demais, fique em silêncio não volte atrás, chega perto e diz: anjo, bem mais perto e diz, anjooo!” - depois de algum tempo começamos então de fato a namorar.  
Algum tempo depois da recuperação do meu primo, fomos a um sítio na cidade de Magé, com o objetivo  de pagar promessas feitas pela esposa deste meu primo, na volta ele voltou dirigindo, o que me deixou um pouco entristecido por não dirigir no retorno.
 Meu primo enfim se restabeleceu voltou à feira, tempos depois eu sai da feira, não porque quisesse sair, mas pelo fato de meu primo não poder mais pagar o salário mínimo da época, que foi aumentado pelo governo para CR$ 97,000.00 (noventa e sete mil cruzeiros)!!! Nesta época eu sequer tinha todos os documentos, aquela menina, agora minha namorada, me incentivou e ajudou indo comigo para tirá-los, até então eu só havia tirado o certificado de reservista e a carteira de motorista categoria “B”, com os documentos em mãos, consegui por indicação de um amigo da rua um emprego, fui então trabalhar no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, contratado por uma empreiteira; meu serviço: reparos navais, entenda-se por limpar fossas das embarcações, raspagem de crustáceos dos cascos, limpeza de tanques de petroleiros, e outro que se encaixavam no contrato, era um trabalho pesado e sujo.           
Nesta época conheci pessoas que moravam em albergues ou na rua, outros que eram viciados e que trabalhavam ali, foi um período de livramentos, pois as influências eram as piores possíveis, mas Deus estava me guardando.  Este emprego durou pouco tempo talvez uns quatro meses.

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