sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR.
PARTE VI

No ano de mil novecentos e noventa e nove, depois de atravessarmos um momento pessoal difícil na área das emoções, decidimos que eu iria pedir demissão da Parmalat do Brasil, e assim aconteceu, tendo saído da Parmalat - logo depois que saí, a Parmalat fechou suas portas no Rio - resolvi entrar numa sociedade em um mercadinho com um irmão da igreja, esta sociedade durou pouco tempo, mas saímos desta sem nenhum aborrecimento, foi algo bem definido e decidido amistosamente, e isto aconteceu porque ao lado do nosso mercadinho abriu um outro maior e acabou por nos “engolir”, não tivemos outra alternativa. Foi porém uma boa experiência.
                Depois disto fui trabalhar por indicação de uma irmã da igreja, na Itapemirim cargas, que ficava em Belford Roxo, lá trabalhei por apenas quatro meses, o suficiente para esquentar minha carteira profissional, já que eu estava a quase dois anos parado da profissão de motorista.
                Neste período outro irmão da igreja, me indicou para fazer um teste para uma vaga de motorista na empresa em que trabalhava, a Supergasbrás, pertencente ao grupo Holandês, Shv Holding que adquiriu as empresas Supergasbrás e Minasgás, Hoje, Supergasbrás Energia Ltda. ingressei nesta empresa em nove de julho de dois mil e um, a este irmão e sua família tenho uma eterna gratidão, pois em todos os momentos difíceis que atravessei, ele sempre se colocou à minha disposição para me ajudar, e isto fez sem nenhum interesse, apenas movido pelo amor de Cristo que está derramado em seu coração, pudemos ver isto claramente. No inicio do ano - em Março - de dois mil e seis, na Supergasbrás sofri um acidente ao efetuar o carregamento do meu caminhão, que me machucou a coluna lombar, este acidente me deixou quinze dias de cama e muletas, e por três anos e nove meses estive afastado do trabalho, foi um período muito complicado, durante o período final de meu afastamento, passei praticamente todo o ano de dois mil e nove, tentando sem sucesso o restabelecimento do beneficio do INSS que me fora cortado, porque segundo os peritos deste órgão eu estava apto para o trabalho, mesmo com laudos médicos e exames de ressonância magnética dizendo o contrário.
Neste momento tão difícil, descobri o valor da minha esposa e de minha família, que sempre me apoiaram.
Em Novembro de dois mil e nove decidi pedir alta ao meu médico, e em oito de dezembro do mesmo ano retornei ao trabalho, com restrição total de pesos e de movimentos repetitivos, retorno este, abalizado pelo medico da empresa.
Voltei as atividades e como desafio surgiu a oportunidade de fazer uma viagem ao estado de Pernambuco, de cara topei, era um grande desafio por causa da coluna, graças a Deus fui e voltei sem sentir nenhuma dor, Deus me deu graça de modo que conquistei a confiança dos meus chefes, de tal maneira que fui citado em reuniões por causa da minha postura, sempre pronto para qualquer missão, pouco a pouco fui ganhando mais confiança, a ponto de ser indicado para fazer testes com candidatos a motoristas da empresa, e outras viagens vieram, Paraná, São Paulo, tudo sem sentir nada na coluna. Depois de ter ido ao Recife, e lá encontrado um dos meus irmãos  combinei ir até Campina Grande para rever minha mãe e Deus me permitiu esta oportunidade, como eu havia acumulado férias vencidas pude viajar no mês de maio, de avião até João Pessoa, foi maravilhoso revê-la e rever a cidade onde nasci e morei até os dezesseis anos. E isto depois de dezoito anos sem ver minha mãe, ela já havia nos visitado no ano de mil novecentos e noventa e dois.
                O ano de dois mil e dez, foi um ano de muitas vitorias concedidas por Deus, senão vejamos: o meu retorno ao trabalho, a graça que Deus me deu diante dos chefes, as viagens feitas sem nenhum problema, a visita a minha mãe depois de dezoito anos sem vê-la, os meus vinte e cinco anos de casados, a gravidez da minha filha, minhas filhas adultas e bem criadas, uma família bem estruturada.
                Hoje quando olho para traz e vejo tudo o que Deus tem feito em minha vida, percebo o quanto Ele me ama e o quanto cuidou de mim em todo este tempo.
Lembro da queda no açude velho, da festa onde explodiu o balão de gás, do dia em que assassinaram aquele jovem que poderia ter sido eu, do dia em que segui o ônibus de bicicleta pela rodovia a fora, das brigas com meu padrasto, de quando cheguei no Rio de Janeiro, de quando Deus me preservou dos vícios, do acidente que sofremos, do dia em que conheci a minha esposa, do dia que um homem atira em minha direção, do dia do meu casamento, dos nascimentos de minhas filhas, das lutas do dia-a-dia, das crise no casamento, dos meus vinte e cinco anos de casado, das viagens feitas, do reencontro com minha mãe e meus irmãos, e de ter uma família estruturada, da gravidez da minha filha, do crescimento de minha família, da minha saúde restaurada, dentre tantas outras acontecimentos, só me resta uma coisa a fazer:

LOUVADO SEJA O NOME DO SENHOR. ALELUIA, AMÉM.

Chego a seguinte conclusão.
DEUS ME AMA POR ESTE MOTIVO A MINHA VIDA, É UM MILAGRE.

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Dezessete de setembro de dois mil e dez, ao voltar do trabalho para casa, recebo uma chamada no celular;
- “Pai, vem depressa pra casa que tem uma novidade”.
Era minha filha caçula; curioso, pergunto que novidade seria.
- “Calma pai é coisa boa,  mas só posso falar pessoalmente”...........................................................
.......................................................................Ops'!... Calma.
                Esta historia você já conhece... 
      
                Que sua vida possa ter sido edificada por este testemunho do amor de Deus.

O melhor de Deus ainda está por vir...

...Maranata,vem Senhor Jesus.

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR
PARTE V

           Logo após nossa volta a minha filha mais velha contraiu uma coqueluche que se arrastou por três meses, a segunda filha contraiu uma infecção intestinal, talvez devido ao leite em pó mal batido durante a viagem e logo em seguida desenvolveu bronquite asmática o que nos entristecia e preocupava.
Nesta época eu havia saído da empresa de pneus e tentava pela primeira vez inaugurar um negócio próprio; um aviário, não deu certo, durante este período um dos meus irmãos veio morar conosco, agora éramos duas crianças e três adultos dentro de uma casa pequena - quarto, sala, cozinha e banheiro - que não estava preparada para isto, neste período a minha esposa engravidou pela terceira vez, foi um período difícil pois não tínhamos dinheiro pra nada, nem mesmo pré-natal ela pôde fazer, o aviário ia de mal a pior, fui obrigado pela situação a pedir ao meu irmão para morar em outro lugar, ele foi então morar na casa de uma prima nossa, até que decidiu voltar para Campina Grande. Onde mora até hoje. Lá ele casou, tornou-se pai de uma linda menina, mas infelizmente seu casamento não deu certo ele acabou por separar-se de sua esposa. Que pena! 
                Um belo dia dois colegas que trabalhavam comigo na empresa de pneus apareceram em casa, dizendo que talvez eu pudesse voltar para a empresa, assim como quem não quer, mas querendo, apareci lá. E conversando com o meu ex-patrão, acertei minha volta, e assim foi. Daí em diante tudo começou a mudar pra melhor, fizemos logo uma ultrassonografia e descobrimos que ao contrário do que todos diziam, seríamos pais de outra menina,  o engraçado é que estávamos comprando tudo - algumas poucas coisas - como se fosse para menino, mas ao realizarmos o exame e com o resultado em mãos saímos da clínica e na mesma hora compramos tudo - algumas poucas coisas - para menina, assim, no dia onze de novembro de dois mil e um, nasceu a caçula, encerrando assim com chave de ouro o nosso desejo de mais filhos. Ela nasceu linda, uma soma da beleza da filha mais velha com a filha do meio, ela era comprida, foi de fato um gran-finale.
                Três filhas lindas, uma mulher maravilhosa e virtuosa, Deus faz com que o solitário viva em família.
Uma  linda família. 

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              Depois disso saí outra vez da empresa de pneus, ressalto aqui que eu não era uma má pessoa, mas, influenciado por maus conselhos agi de modo desonroso para com meus patrões, lesando-os sempre que possível, acreditando estar me dando bem, decidi sair antes de qualquer coisa dar errada, ou ter descobertas minhas fraudes.
  Deus sempre me paquerou, nesta empresa ganhei e li todo o livro "O MAIS IMPORTANTE É O AMOR", isto um pouco antes de me decidir por sair, passei então por outro período de desemprego, cinco meses exatamente, estes meses foram dificílimos, eu até conseguia um emprego aqui, outro ali, mas nada me satisfazia, então consegui numa recauchutadora de pneus, eu fazia uma rota de trabalho que era fraquíssima, ao fim da rota totalmente desanimado e desmotivado, ia com o caminhão para a beira da praia do Grumarí, e lá ficava pensando na vida e nas dificuldades e também numa provável solução.
  Ao recolher o caminhão para a garagem, por varias vezes eu vinha pela Estrada dos Bandeirantes em Jacarepaguá, contando os postes procurando um onde pudesse jogar o caminhão, de maneira a provocar minha morte. é isto mesmo, eu era levado a pensar em suicídio, pois eu achava que com o dinheiro do seguro de vida que tinha, a minha esposa poderia resolver todos os problemas da família, o amor de Deus por mim não me desamparou, e isto saiu da minha cabeça. Saí da recauchutadora.
                Noutro momento, lendo o jornal encontrei um anuncio que mandava ler o Salmo vinte sete, três vezes por dia, durante três dias, e depois mandar publicar por três dias seguidos no jornal em agradecimento, assim fiz e logo encontrei outro anuncio para emprego, fui trabalhar numa empresa de entregas de refrigerante, lá eu entrava no serviço as seis da manhã e não tinha horas pra sair, um belo dia eu já não mais aguentando o peso da responsabilidade afinal eu tinha uma família sustentar, resolvi falar ou desabafar pra Deus os meus desejos e lembro que caminhando pela rua indo para o trabalho falei exatamente assim: “Meu Deus, eu só queria ter minha dignidade de volta e poder dar para minha família tudo o que sempre dei; escola e médico particular e também alimentação” eu lembro exatamente o que falei, o local em que me encontrava durante esta conversa, até hoje, sempre que passo em frente aquela casa é fácil lembrar.
                A minha esposa neste período foi com sua mãe até o colégio onde as duas meninas mais velhas estudavam, faltavam apenas três meses para o final do ano letivo, para pedir como bolsa de estudos este restante de ano, a fim de que elas não perdessem o ano letivo, o diretor negou-nos o pedido, e ainda as humilhou com suas palavras, lembro da imagem da minha esposa chegando em casa chorando e muito abalada.
     Quinze dias depois daquele meu desabafo, numa segunda-feira chegou um telegrama em casa, com um numero de telefone para eu ligar, na terça-feira nem fui trabalhar, logo cedo liguei para saber do que se tratava e  a moça que me atendeu me disse que era a respeito de emprego para início imediato, e se eu estava interessado? é claro que estou interessado, disse. Ela me passou o endereço - Rua Maturá, quatrocentos e onze em Acari -  e o horário em que deveria comparecer, treze horas, lá chegando fiz o teste psicotécnico, o teórico, lembro que era uma só vaga apenas e havíamos dois candidatos, na hora de fazer o teste prático fui encaminhado ao setor de transportes, lá designaram um rapaz que não era o responsável direto, para fazer o teste conosco, o interessante é que este rapaz me conhecia da época que trabalhava na empresa de pneus, ele me aprovou no teste, fui então encaminhado ao RH para acertos finais da contratação, lá descobri o que acontecera, depois da entrevista pedi licença para uma pergunta, então perguntei como eles haviam me localizado já que eu não havia posto nenhum currículo, nem mesmo conhecia ninguém da empresa, era a Yolat, que depois virou Parmalat do Brasil, a entrevistadora me respondeu que localizaram meu currículo na fabrica da Coca-cola que ficava em Nova Iguaçu, o único lugar onde havia colocado meu currículo, no mesmo instante da resposta daquela moça, eu ouvi no meu coração de uma forma muito real, uma voz que dizia: “estou te dando o que você me pediu”, entendi e lembrei daquele meu clamor, “Meu Deus, eu só queria ter minha dignidade de volta e poder dar para minha família tudo o que sempre dei; escola e médico particular e também alimentação”. Deus seja Louvado!
                Voltei pra casa naquele dia depois daquela entrevista, com o coração vibrando de alegria, contei para minha esposa entre lagrimas tudo que havia acontecido, comecei a trabalhar na Parmalat em agosto de mil novecentos e noventa e cinco, eu trabalhei por três anos e sete meses na Parmalat, lá eu pude continuar levando minhas filhas ao médico particular que sempre levei devido ao plano de saúde, e elas ainda continuaram estudando no mesmo colégio onde o diretor havia negado a bolsa, e agora com bolsa de estudos integral do governo, nesta ocasião tomamos conhecimento da atenção de Deus para conosco, Deus restituiu minha dignidade. 
                Decidimos  então procurar uma igreja onde nos aproximaríamos de Deus; assistíamos a todos os programas de igrejas na televisão, mas nenhuma nos chamava atenção a ponto de irmos até elas.
                   Um dia estava dormindo e a minha esposa me acordou entusiasmada me dizendo que uma amiga de adolescência, que não via a muito tempo havia passado em frente de casa e haviam conversado, ela se convertera ao evangelho, e nos convidou para visitar a igreja que frequentava - Igreja Batista Monte Sião - que fica próxima a nossa casa. Nós então marcamos nossa ida a igreja para o dia três de dezembro de mil novecentos e noventa e cinco, já que era o próximo dia de minha folga, neste emprego eu trabalhava à noite e folgava à cada quinto domingo.
                  No dia combinado a amiga da minha esposa foi nos buscar em casa, e nós fomos meio que escondidos da família, já que morávamos no mesmo quintal, chegando lá fomos muito bem recebidos, havia algo muito gostoso naquele lugar e naquelas pessoas, no momento em que o Pastor fez o apelo após a pregação, eu mais que ligeiro levantei a minha mão dizendo sim para o convite de aceitar Jesus como meu Senhor e Salvador, a minha esposa me acompanhou, a minha filha mais velha também, e assim a partir daquele dia não mais deixamos de estar na igreja, no dia nove de junho de mil novecentos e noventa e seis, nos batizamos e nos tornamos membros efetivos desta igreja, ali temos participado de vários trabalhos pelos mais variados ministérios e departamentos.

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR
PARTE IV

Comecei namorar aquela menina de fato em agosto de mil novecentos e oitenta e três, foi um namoro conturbado, não por ela, mas por minha causa, eu era uma pessoa muito difícil que não sabia o que era amor e neste período de namoro terminei com ela varias vezes, cinco na verdade, todas as vezes dizendo que não daria certo, que eu não gostava dela, que seria melhor se ficássemos amigos e por ai vai, mas não sei porque eu sempre voltava atrás. Hoje eu sei, Deus estava no controle.
A mãe da minha namorada conhecia o dono de um supermercado da localidade, recorri então a minha futura sogra para conseguir um emprego neste mercado, aquele Sr. foi muito atencioso e prontamente me encaminhou para falar com a responsável pelo RH, em pouco tempo estava empregado, trabalhando nos supermercados Alto da Posse - hoje não mais existe.              
Era então o ano de mil novecentos e oitenta e quatro. Depois de idas e vindas decidimos ficar noivos, em agosto de mil novecentos e oitenta e cinco. O dia do nosso noivado foi engraçado porque nossos colegas estavam querendo ver minha coragem, e o meu pedido de noivado ao pai da minha namorada, eles então ficaram do lado de fora da casa encostados na porta tentando ouvir, em determinado momento a porta cedeu e todos caíram para o lado de dentro da sala onde estávamos, mas foi tarde de mais, eu já havia feito o meu pedido.
Os meus parentes - não todos - muitas vezes pararam minha sogra na rua para dizer que não deixasse sua filha casar comigo pois eu não era uma boa pessoa, que eu era irresponsável, que eu iria agredi-la, que iria fazê-la sofrer e que iria deixá-la passar necessidades, mas graças a Deus nunca precisamos de fato de nada, que Deus não nos tenha suprido. Um dos meus orgulhos é nunca ter precisado pedir nada a eles, e digo isto não por soberba vã, mas para Glorificar o nome do meu Deus.
Lembro de uma vez em que uma outra prima minha me chamou pra conversar e pediu para que eu não fizesse aquela menina sofrer, pois ela já vinha de uma família bem sofrida. A partir do nosso noivado tudo começou a ficar diferente e eu assumi de verdade o nosso compromisso.

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Era nosso costume no trabalho fazermos uma brincadeira com aqueles que iriam se casar, nós dávamos  literalmente um banho de sujeira no noivo, mesmo após ele ter tomado banho e trocado de roupa para ir para casa, eu mesmo participei de algumas, só que agora era a minha vez, e os meus colegas capricharam, eles acumularam ao longo de uma semana ou mais, coisas do tipo iogurte vencido, água suja da cozinha,  água com sangue de carne do açougue, até urina, e farinha de trigo, prepararam tudo e saíram antes de eu perceber, eles  foram para o centro de Nova Iguaçu, na época trabalhávamos no bairro de Cabuçú, ao sair do trabalho naquele dia eu não poderia imaginar o que estaria para acontecer; ao descer do ônibus em Nova Iguaçu avistei uns colegas do trabalho em um bar tomando cerveja, logo fui convidado e prontamente aceitei o convite, em dado momento alguém me chamou a atenção para algo na rua, inocentemente me virei para ver o que “acontecia”; imediatamente recebi em cima de mim, tudo aquilo que estava acumulado, foi um banho e tanto de tudo que é sujeira, o pior é que eu iria de ônibus pra casa, espertamente para não pagar o mico sozinho abracei um deles sujando-o e obrigando-o a ficar comigo.
Nesta época eu já estava morando sozinho na casa que havia alugado para morar com minha futura esposa.
                Sete de dezembro de mil novecentos e oitenta e cinco, o dia do dia mais feliz da minha vida, o dia do meu casamento, este dia foi marcante, acordei cedo peguei o carro de um amigo que me emprestou - um fuscão vermelho incrementado - lindo, todo bem acabado.
Neste dia, o carro, a camisa, a gravata, os sapatos eram todos emprestados.
                Fomos para o cartório que ficava na localidade de Mesquita - hoje cidade - para enfim nos casarmos, estávamos acompanhados da minha sogra, do meu cunhado e de sua cunhada, eles foram nossos padrinhos de casamento, eram nove horas da manhã quando nos casamos, as nossas alianças foram trocadas dentro do Fusca, eu dirigindo e a minha agora esposa no banco de traz. Que coisa!!
Chegamos em casa e começamos a preparar a festa que estava marcada para a noite, lembro de ter comprado duas caixas de cerveja, o meu sogro nos deu duas caixas de refrigerante, também ganhamos dois litros de batida de coco e eu mesmo fiz outras, a tia da minha esposa fez o bolo da festa, assim foi a festa do nosso casamento, por volta das onze horas eu a minha esposafugimos” e fomos para nossa casa. Estavam na festa quase todos os nossos parentes e amigos, foi um festão pra nossa realidade da época.
A partir de agora eu era um homem de família, casado, e muito bem casado. E logo eu que pensava que nunca iria casar. Deus é muito bom!
                Porém no começo foi bem difícil me adaptar a esta nova realidade tanto é, que o nosso primeiro natal foi um fiasco, eu sai do trabalho e junto com outros dois colegas fomos desejar feliz natal a uma família conhecida de um deles, era pra ser algo rápido mas ao chegarmos lá, a mesa estava posta e nós começamos a tomar vinho e só saímos perto da meia noite eu estava totalmente embriagado o nosso primeiro natal de casados, foi comigo bêbado e derrubado por um "quase coma” alcoólico. Pela  manhã toda a roupa que sujei na noite anterior estava no tanque pra que eu lavasse, imagino que tenha sido muito grande a decepção de minha esposa.
                Depois do susto inicial veio então desejo de me tornar pai, pois eu tinha muito medo de ser estéril, por ter contraído caxumba quando criança, em janeiro de mil novecentos e oitenta e seis, para a nossa felicidade, a minha esposa engravidou. O engraçado desta época, foi que o exame de farmácia que ela fez deu negativo, o que me deixou muito triste chegando às lagrimas, só um tempo mais tarde confirmou-se a gravidez.       
Quando ela estava no sexto mês de gravidez decidi sair do supermercado e assim fiz, decidi ficar um período em casa pra "descansar", logo o dinheiro acabou, então fui trabalhar depois de muito relutar, - ainda havia um pouco de irresponsabilidade - na mesma oficina que trabalhara quando cheguei ao Rio, agora como lanterneiro.
Nesta época o meu senhorio soube do meu desemprego e me indicou para um emprego de motorista de caminhão em uma pequena empresa de sucatas e pneus que estava iniciando suas atividades, era o meu sonho de ser motorista de caminhão me alcançando.          Fui pedir auxilio a um primo que era caminhoneiro, que me deu um único treino em seu caminhão, me tranquilizando a fazer o teste. Nesta empresa trabalhei por mais ou menos dez anos.

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                A minha primogênita nasceu em sete de outubro de mil novecentos e oitenta e seis. Linda! Gorduchinha! uma princesa, o bebê mais lindo da maternidade.
Após o casamento meu cunhado nos deu uma casa que ele havia iniciado a construir no quintal de seus pais, eu então comecei a terminar a casa, primeiro um lado, para depois fazer o outro. Neste meio tempo a minha senhoria deixou de nos cobrar o mês do aluguel para que pudéssemos investir na casa, quando ficou quase pronta nos mudamos, mesmo sem emboço e com apenas o piso grosso, e sem banheiro usávamos o da casa da sogra, ali começamos a planejar uma segunda gravidez para que nossa primogênita não ficasse sozinha.
            
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                Em trinta e um de julho de mil novecentos e oitenta e oito nasceu a nossa segunda filha, tão linda quanto a primeira, branquinha carequinha, uma graça de criança, ao ficar contra a luz se via uma  aréola formada pelo pêlos loiros em volta da sua cabeçinha careca. Ela sempre foi muito engraçada e tinha boas tiradas, mas também foi a que mais nos deu trabalho devido a bronquite, volta e meia  estávamos no médico com ela para tratamento, mas Deus no Seu tempo a curou definitivamente. Louvado seja Deus. 
                Depois de um período meu cunhado passou por um momento difícil, era o ano de mil novecentos e oitenta e oito, ele perguntou se poderíamos ceder o outro lado da casa para que ele pudesse morar por um tempo, é claro que cedemos. Assim ficamos com uma parte da casa e ele com outra. Para chegada da segunda filha demos uma melhorada na casa, fizemos o emboço colocamos piso, criamos o banheiro, a nossa casa ficou uma beleza, era pequena, mas era a nossa casa.
                Em dezenove de setembro deste mesmo ano, num dia de domingo, eu estava lavando o carro da empresa que ficava comigo, todo feliz ouvindo musica alta no rádio do carro, quando chegou uma prima, a mesma que me pediu para fazer a minha esposa feliz, ela foi logo dizendo pra baixar o rádio, pois não trazia boas noticias, lembro que meu coração deu uma balançada imaginando que minha mãe havia falecido, o que ela logo descartou, mas ainda assim a noticia foi horrível, o meu irmão caçula, de apenas dezesseis anos, havia falecido.
Ao sair para passear com um grupo de amigos e a namorada para um sitio da região afogou-se num lago de irrigação deste sitio, meu mundo caiu! meu Deus! O meu irmão que quando saí de lá o deixara com apenas oito anos, agora aos dezesseis morreu, ainda mais assim de modo tão trágico, lembro que perguntava a Deus o porque? Chorei muito, fumei quase um maço de cigarro, mas nada me consolava, então decidi ir até Campina Grande consolar minha mãe e meus irmãos assim como meu padrasto, a minha esposa logo concordou, mas decidiu que iria junto, assim ficou combinado. fui trabalhar no dia seguinte e depois de explicar ao meu patrão todo acontecido, lhe pedi  uma quantia emprestada para fazer a viagem o que ele prontamente atendeu me dando um mês de férias, e me emprestando a quantia de mil cruzados novos, que paguei depois, e parcelado em muitas vezes.
Assim partimos, Eu, minha esposa e nossas filhas, com um ano e onze meses, e um mês e vinte dias, respectivamente, foi um a viagem louca, a minha esposa antes mesmo de atravessar a ponte Rio - Niterói já queria desistir, a minha filha mais velha enjoou e vomitou a viagem inteira, enfim chegamos depois de três dias ao nosso destino, e o que encontramos foi uma família destroçada, um pai, uma mãe, e dois irmãos super abalados, chegamos a tempo de assistir a missa de sétimo dia, onde foi lida uma carta dos amigos da escola que estavam com o meu irmão, durante muito tempo eu guardei esta carta comigo, depois vi que não era boa coisa, então me desfiz dela. Por causa deste fato a minha segunda filha recebeu o privilegio de prestar homenagem ao meu irmão, recebendo a versão feminina do nome dele.
Aproveitamos os momentos ali para rever alguns parentes, principalmente minha tia, aquela que me "criou" até os quatro anos de idade. Passado o tempo previsto precisávamos então voltar, lembro do meu padrasto me propondo ficar e isto me balançou, e só por causa da minha esposa e por minhas filhas eu não fiquei, lembro de ter chorado muito querendo ficar, chorei por pelo menos duas ou mais horas seguidas, até que enfim entendi que minha vida havia tomado outra direção.
A viagem de volta foi tão difícil quanto a de ida, em uma parada a minha esposa desceu para dar banho na primeira filha, deixando a segunda comigo no ônibus, então decidi comprar um yogurte que era a única coisa que a filha mais velha aceitava comer, acabei deixando a menina dentro do ônibus, e não percebi que o mesmo saíra para lavagem do banheiro, quando a minha esposa voltou ficou desesperada e brava comigo, por ter deixado a menina sozinha no ônibus, e eu como se nada tivesse acontecido, achando tudo normal. Até hoje escuto brincadeiras sobre isto.
Enfim chegamos de volta ao Rio de Janeiro, nos primeiros meses de minha volta as relações foram insuportáveis, pois eu ainda continuava com o coração lá em Campina Grande.

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR
PARTE III

Uma lembrança engraçada desta ocasião é que muitos colegas me perguntavam de onde eu era e eu respondia com um orgulho espantoso que era de “Campina Grande, a Capital do comércio paraibano” não sei de onde vinha tanto orgulho, pois tudo que eu queria era sair de lá?! Tempos depois fui trabalhar em uma oficina de lanternagem e pintura de automóveis que ficava na mesma rua onde morávamos, lá trabalhei como ajudante de pintor, preparando os carros para a pintura.
Nesta época aconteceu uma coisa muito divertida: certa vez na hora do lanche da oficina, ocorreu uma aposta entre eu e o pintor, e acabei comendo seis pães do tipo bisnaga, - o que equivale hoje a três pãezinhos de cinquenta gramas - com refrigerante, isto se tornou publico e por muito tempo sofri gozações pelo feito.
Eu andava muito de bicicleta que eram sempre de algum dos primos, e sofria várias quedas, numa destas quedas eu machuquei a perna (canela) direita, e seguindo orientações irresponsáveis apliquei thinner - solvente - usado para diluir tintas, sobre o ferimento e esta atitude me causou uma ferida que permaneceu por muito tempo e que só mesmo por milagre de Deus não gangrenou, ainda tenho as marcas na perna, nesta época também conheci algumas pessoas da vizinhança que para mim eram muito legais, na verdade não eram más pessoas, mas gostavam muito de uma cerveja e como eu era um “José vai com os outros” fui com eles, e logo já estava super acostumado com a bebida e também com o cigarro, e frequentando também lugares do mais baixo nível em Nova Iguaçu, depois de algum tempo fui chamado por um primo para trabalhar ajudando na feira, todos os primos trabalhavam na feira, eu fui e me adaptei muito bem e facilmente ao tipo de trabalho, acordava as três ou quatro horas da manhã e voltava as três ou quatro horas da tarde. Depois fui trabalhar ainda na feira com uma outra pessoa que não era da família, neste período aprendi a dirigir, (meu outro sonho era ser motorista de caminhão) sem que ninguém tivesse de fato me ensinado, aprendi apenas observando e perguntando as funções dos pedais, e marchas, de repente comecei a efetuar pequenas manobras, até que um dia um colega de trabalho ficou do lado de fora da Kombi e me ajudou a manobrá-la, daquele dia em diante comecei a tomar gosto e coragem, tomei tanta coragem que um dia fui sozinho dirigindo uma Kombi velha, sem documentação pessoal nem habilitação, até a feira de Ipanema, vindo a levar uma bela bronca do marido de uma prima que trabalhava na mesma feira. uma semana depois descobri que esta Kombi estava com defeito nos freios e na caixa de direção, tempos depois já habilitado, saí do bairro das Laranjeiras indo pra Jacarepaguá, em outra Kombi esta um pouco mais nova, segui caminho pela serra Grajaú–Jacarepaguá, para descer a serra resolvi colocar a Kombi em ponto morto (banguela), - isto não se faz em hipótese alguma muito menos em descida de serras, - fiz a primeira curva com certa facilidade uma beleza! Já na segunda senti que o carro não reduzia a velocidade, percebi que o motor havia apagado (morrido) e não havia mais freios, Graças a Deus tive o sangue frio de jogar lentamente a Kombi para o acostamento e em seguida no barranco alto do lado direito, ao mesmo tempo em que pisava com os dois pés no freio, consegui finalmente parar. Lembro que subia um cheiro forte de lona de freio queimada, daí em diante desci a serra toda em terceira marcha e com o pé no freio. Sou realmente alvo do amor de Deus.
Neste período também descobri o quanto é ruim morar na casa dos outros, mesmo que sejam parentes; sem falar que eu queria fazer o que me dava na cabeça, beber, chegar tarde em casa, não ajudar nas despesas, não demonstrar busca por melhoria pessoal, enfim, pensava que ainda estava em casa de minha mãe e que as pessoas tinham que me aceitar como eu era, ai começou ficar difícil o convívio, reconheço minhas culpas.fui um péssimo hóspede.
Varias vezes discutia com meus primos, outras vezes chegava tarde em casa e a minha comida estava sobre o fogão, quando destampava,  haviam baratas andando por cima da comida, então eu não comia, no dia seguinte era briga certa, pois eu não poderia desperdiçar comida, elas tinham razão.

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Em um domingo de Maio de Mil Novecentos e Oitenta e Três estávamos indo para feira e sofremos um acidente de automóvel, o Fusca do meu primo em que estávamos, foi atingido por outro carro - uma Brasília - que dirigido por uma pessoa alcoolizada nos atingiu de frente, nos jogando em direção a um posto de gasolina, quase atingimos a bomba de abastecimento, estávamos no carro eu, e mais três primos, um nada sofreu, um outro sofreu fratura de bacia e teve hemorragia interna, tendo que passar por cirurgia e o terceiro quebrou o braço esquerdo atingido por uma cabeçada minha. Fiquei um tempinho sem poder beber devido a medicação que havia tomado, para tratar o corte que levei na boca, mesmo assim fui ao bar jogar uma sinuquinha, lá um dos colegas de bar pediu para eu pagar uma rodada de cerveja, eu me neguei pois na podia beber, e não considerava justo pagar e ficar olhando, este colega depois de sair do bar me cercou na rua me agredindo verbalmente e quase partindo para as vias de fato, por eu não ter pago a rodada,  Belos “amigos” eu tinha.
Outra coisa relevante desta época foi algo que me assustou: um dia ao sair do mesmo bar que sempre frequentava, dei de cara com uma pessoa bêbada na rua, esta pessoa vinha em minha direção, este homem estava armado com um revolver, e do nada ele apontou em minha direção e fez dois ou três disparos, eu gelei. Pela graça de Deus aquela arma falhou, eu nunca havia visto aquele homem, que  assim como veio desapareceu. Deus realmente me ama!
Nesta época eu estava trabalhando na feira com um primo, que foi quem sofreu o maior dano no acidente, em todo o tempo em que ele esteve afastado eu assumi o seu lugar na feira. Ele esteve afastado por uns quatro meses ou mais, durante este período de internação e de visitas ao hospital conheci a outra parte da família da esposa do meu primo, e junto conheci aquela que entraria e mudaria  definitivamente na minha historia.               
Ela parecia uma bonequinha de porcelana, branquinha, miudinha, aparentado (só aparentando) uma fragilidade imensa. Sempre que íamos visitá-lo esta menina estava junto, e uma tia dela sempre brincava dizendo que seriamos namorados, isto me deixava muito envergonhado, acho que a ela também, pois apesar de não parecer, eu era muito tímido.
Um belo dia eu fui abastecer o fusca do meu primo e chamei esta menina pra ir comigo ela aceitou o convite, só que temos uma prima em comum, filha do meu primo com a tia desta menina, esta prima ouviu o convite e quis ir também, isto custou um par de brincos para manter silencio.
aquela menina passou então a frequentar com mais assiduidade a casa da tia a pretexto de ajudar nas lides da casa, eu sempre me mantendo distante pois as brincadeiras daquela sua tia me deixava cada vez mais tímido, a menina até tentava puxar assunto comigo mas eu me mantinha arredio, certa vez em uma das visitas ao meu primo ela voltou - como sempre - de carona no carro que eu dirigia, ela sentou no lugar do meio do assento traseiro, ficando exatamente na direção do espelho retrovisor interno, toda vez que eu olhava no espelho lá estavam seus olhos a olhar nos meus, - lembro exatamente da sensação de encontrar com seus olhos, isto graças a Deus, ainda me causa o acelerar do coração -  mas eu rapidamente desviava o olhar, mais um pouco e lá estava eu olhando no retrovisor de novo, e lá estavam aqueles olhos lindos, no radio tocava uma musica que de certa forma passou a ser a nossa musica, era a musica “anjo” do grupo Roupa Nova, um grande sucesso da época – “se você vê estrelas demais, fique em silêncio não volte atrás, chega perto e diz: anjo, bem mais perto e diz, anjooo!” - depois de algum tempo começamos então de fato a namorar.  
Algum tempo depois da recuperação do meu primo, fomos a um sítio na cidade de Magé, com o objetivo  de pagar promessas feitas pela esposa deste meu primo, na volta ele voltou dirigindo, o que me deixou um pouco entristecido por não dirigir no retorno.
 Meu primo enfim se restabeleceu voltou à feira, tempos depois eu sai da feira, não porque quisesse sair, mas pelo fato de meu primo não poder mais pagar o salário mínimo da época, que foi aumentado pelo governo para CR$ 97,000.00 (noventa e sete mil cruzeiros)!!! Nesta época eu sequer tinha todos os documentos, aquela menina, agora minha namorada, me incentivou e ajudou indo comigo para tirá-los, até então eu só havia tirado o certificado de reservista e a carteira de motorista categoria “B”, com os documentos em mãos, consegui por indicação de um amigo da rua um emprego, fui então trabalhar no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, contratado por uma empreiteira; meu serviço: reparos navais, entenda-se por limpar fossas das embarcações, raspagem de crustáceos dos cascos, limpeza de tanques de petroleiros, e outro que se encaixavam no contrato, era um trabalho pesado e sujo.           
Nesta época conheci pessoas que moravam em albergues ou na rua, outros que eram viciados e que trabalhavam ali, foi um período de livramentos, pois as influências eram as piores possíveis, mas Deus estava me guardando.  Este emprego durou pouco tempo talvez uns quatro meses.

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR 
PARTE II

Mudei outra vez de escola e fui estudar junto com meus dois irmãos, em uma escolinha particular chamada Educandário Luiz Alves Siqueira, de lá saí para entrar outra vez, na rede estadual de ensino, indo para o Colégio Estadual José Pinheiro no bairro do mesmo nome, ali cursei a quinta serie sendo reprovado pela segunda vez na minha história, Eu havia me tornado um adolescente rebelde e as brigas com meu padrasto se tornavam cada vez mais frequentes e perigosas, o desrespeito - por minha parte - aumentava na mesma medida a desobediência também crescia.
Um belo dia, minha mãe recebeu de surpresa em casa, a visita de um irmão - ele era Coronel reformado dos Fuzileiros Navais - que ela não chegara a conhecer, pois quando ela nasceu ele morava em outra cidade e logo em seguida foi convocado pra a II guerra mundial no ano de mil novecentos e trinta e nove, ficando longe por quarenta anos, este tio ficou hospedado em nossa casa por um mês ou mais, ele era um cara muito legal, quando retornou para o Rio, nós fomos levá-lo na rodoviária de Campina Grande, ele embarcou às nove horas da manhã, me lembro exatamente por causa do que aprontei em seguida: encontrei com um primo distante de terceiro grau e peguei com ele uma bicicleta emprestada que nem dele era, de posse da bicicleta fui seguindo a rota do ônibus que meu tio havia pego, fui parar no sitio da minha tia, aquela que me criou, que ficava a quase três horas - de bicicleta - de distância de Campina Grande, cheguei lá por volta das treze horas, minha tia se espantou ao me ver chegando ali sozinho e ainda mais de bicicleta, ela perguntou se minha mãe sabia e eu disse que sim, mas não era verdade; ela desconfiada pediu para seu marido ir até Campina Grande para falar com minha mãe que estava desesperada à minha procura, lá depois de conversarem, decidiram que eu iria passa o resto do mês lá no sitio, foi bom pra mim porque amansou a raiva da minha mãe, que não me bateu na minha volta.

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Uma outra ocasião, era o ano mil novecentos e setenta e quatro, depois de mais uma, dentre tantas brigas com meu padrasto, saí e fiquei o dia inteiro fora de casa, havia uma festa de final de ano na cidade, um destes parquinhos de interior com roda-gigante, carrossel, jogos e brincadeiras variadas e eu passei todo o dia ali, junto com aquele primo que havia me emprestado a bicicleta da aventura anterior, durante o dia aconteceu um grave acidente, uma destas garrafas de gás hélio, explodiu em meio a festa matando muita gente, o relato que se segue foi extraído do blog "Retalhos Históricos de Campina Grande":
'Era uma bela tarde no animado bairro de Zé Pinheiro. Todavia, o dia 25 de dezembro de 1974 entrou para os anais da história campinense, como o dia da maior tragédia da cidade. Em virtude da explosão de um garrafão de oxigênio, que era utilizado para encher balões infantis. Campina Grande tornou-se manchete em todo o Brasil devido às várias mortes ocorridas naquele dia, além das centenas de pessoas feridas. Tudo isso ocorreu, em virtude do descuido de um garrafeiro que enchia balões durante a festa, quando imprimiu uma alta pressão na recarga do cilindro, provocando o rompimento do mesmo em vários pedaços. Com a explosão do artefato, vários pedaços de seres humanos foram arremessados em casas e na Igreja de José Pinheiro. Durante dias, o mau cheiro foi predominante naquele local, chegando a ser comum, pessoas encontrarem nos tetos de suas casas, restos de gente'.
Eu estava em uma rua paralela e sequer ouvi o barulho da explosão, só percebi que havia algo errado quando ouvi as sirenes das ambulâncias e dos bombeiros, decidi então depois de um tempo ir para casa, quando cheguei encontrei minha mãe desesperada, já havia me procurado até em necrotérios, outra vez por causa do susto, não tomei uma surra.

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Dali fomos morar pela segunda vez em um sitio chamado Shangri-lá que pertencia a um médico oftalmologista, amigo do meu padrasto, neste sitio presenciei a única vez que ele agrediu em minha mãe, ele estava bêbado e deu um tapa no rosto dela, quando vi aquilo parti pra cima dele com um pedaço (trave) de madeira usado para travar as janelas, mas graças a Deus ele era mais forte que eu, e mesmo bêbado tomou de mim aquele pedaço de madeira, este dia foi terrível e chocante para minha mãe e também para mim.
Este sítio ficava fora da cidade uns sete quilômetros, (uma légua) certa ocasião eu perdi o ônibus para a escola, então fui a pé - já era tardinha quase noite, - percorrendo estes sete quilômetros, que aventura!
Naquela  noite resolvi voltar da mesma forma, e pelo mesmo caminho a pé, mas ao chegar em um lugar conhecido como onze cruzes, estanquei; congelei de medo; diziam que ali era mal assombrado e apareciam espíritos das pessoas (onze) que haviam morrido num acidente de automóvel ali, e dormi na rua do lado de fora de um posto de fiscalização da policia rodoviária federal, se havia uma coisa de que eu tinha medo era fantasmas, como se eles existissem!
Outra vez fui com o pessoal do ônibus que nos transportava para a escola, a uma cidade vizinha chamada Puxinanã, para ver o na época famoso, e hoje já falecido, Frei Damião, um Frei Franciscano que peregrinava pelo nordeste pregando a fé católica, acabei dormindo no ônibus mesmo, chegando em casa pela manhã, isto sem avisar minha mãe, "naquela época não havia telefone celular!!!", depois de muitos anos descobri que este Frei era um ferrenho perseguidor da fé evangélica ou protestante, tinha-nos como hereges. Mas isto é outra história.
Esta mudança para tão longe - Shangri-lá - de certa forma contribuiu para que eu desanimasse de vez com os estudos. Com minha rebeldia decidi, sem perguntar a ninguém que não iria mais estudar. Minha mãe disse que eu com toda “autoridade”, afirmei:
- “mesmo que a escola fique na porta de casa, que só precise atravessar a rua, eu não vou mais estudar e pronto”. 

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Um acontecimento triste desta época tenho guardado na lembrança; certa vez queria ir para uma festa, um forró, em um lugar chamado Cuités - não sei se era um bairro ou um distrito de Campina Grande - com outro três conhecidos, minha mãe não me deixava ir, mas eu queria ir, então decidi ir assim mesmo, pra minha surpresa quando eu estava no caminho com os tais conhecidos, minha mãe foi ao meu encontro, e me trouxe pela mão, me recordo que ela apertava muito a minha mão, eu tentando me soltar mas era impossível pois ela era bem mais forte do que eu, no dia seguinte acordamos com uma trágica notícia correndo, um daqueles três que eram primos entre si, havia sido assassinado com vinte e três facadas pelos outros dois e mais um camarada que havia se juntado ao grupo, este outro camarada era o vaqueiro do sitio onde morávamos, minha mãe olhou fixa e firmemente nos meus olhos, como quem diz: “viu do que você se livrou” eu compreendi do que havia sido salvo, de novo Deus me preservou a vida.
Nesta época uma tia que já morava no Rio de Janeiro, foi nos visitar, era janeiro de mil novecentos e oitenta, esta tia tomou conhecimento de minha rebeldia e das brigas que eram cada vez mais frequentes com meu padrasto, e na tentativa de ajudar propôs que minha mãe autoriza-se a minha ida com ela para o Rio de Janeiro, minha mãe já havia ameaçado que, se eu fosse outra vez reprovado na escola seria este o meu destino, esta foi a frase chave para que eu abandona-se de vez a ideia de estudar, tudo que eu queria era a minha “liberdade” afinal de contas na minha visão, eu era muito preso, não podia nada ou quase nada. Assim aconteceu que viajei para o Rio de Janeiro com minha tia e sua nora, era fevereiro de mil novecentos e oitenta. Nesta mesma ocasião minha família  mudou- se do sitio Shangri-lá onde estávamos morando, para morar de novo na cidade desta vez na Rua Santo Antônio, em uma casa que era da nora da minha tia. Nesta casa não cheguei a morar.
Fizemos uma loooonga viagem...
                Enfim cheguei ao Rio de Janeiro, o lugar que tanto esperei e desejei conhecer e morar. Depois de quatro dias de viagem - devido as chuvas da época -  enfim cheguei à Rua Antônio Pinto, rua para qual tantas vezes escrevia as cartas de minha mãe, nesta rua moravam quase todos os meus parentes, e eu podia estar com todos em todo o tempo. Confesso que ao ver o lugar senti uma pequena decepção, pois o lugar era feio, a rua era de terra, e havia muitas e fedorentas valas negras, muito terreno baldio e muita gente pobre, totalmente diferente de tudo que  se imagina fora do Rio, pois o que se conhece do Rio é o que se vê na televisão, e na tela parece tudo lindo e perfeito. Mas tudo bem afinal de contas eu agora estava no RIO DE JANEIRO. Era fevereiro, mês de carnaval e se não me engano naquele ano a Beija Flor de Nilópolis foi a vice-campeã. Não que isto seja de todo importante, mas apenas nos para situar no tempo. Durante algum pouco tempo  me atrevi a não trabalhar em nada, nem estudar, mas, depois de algum tempo vieram as cobranças, e meu tio, marido da minha tia, me arranjou um emprego numa serraria onde trabalhava, lá eu fui trabalhar lixando molduras de madeira, para ganhar uma pequena comissão, o que logo me desanimou.

MINHA HISTÓRIA; UM MILAGRE.

A FIDELIDADE DO SENHOR. 
PARTE I

Dezessete de setembro de dois mil e dez, ao voltar do trabalho para casa, recebo uma chamada no celular;
- “Pai, vem depressa pra casa que tem uma novidade”.
Era minha filha caçula;
curioso, pergunto que novidade seria.
- “Calma pai é coisa boa, mas só posso falar pessoalmente”.
Isto aguçou ainda mais minha curiosidade, mas, para minha angustia o trânsito estava que era um engarrafamento monstruoso, o que contribuiu para uma longa viagem nas prováveis possibilidades.
Depois de muito tempo consegui chegar em casa.
Ao chegar,  imaginando uma infinita variedade de opções.
Estavam todos -  minha esposa, minha sogra, minha cunhada e minhas outras duas filhas; tenho três,  me aguardando no quintal com sorrisos nos olhos e um sonoro. - “parabéns vovô!!”.
A minha filha mais velha, casada há dois anos, estava grávida;
- “tem certeza?” Pergunto para ela, meio assustado.
- “tenho eu fiz o teste e deu positivo”.
- “mas que exame você fez?”, Pergunto novamente ainda meio que sem acreditar.
- “fiz o teste de farmácia, e tenho certeza, estou grávida pai!”.
- “calma gente”,  digo ainda incrédulo.
- “não é melhor esperar e fazer o exame de sangue pra confirmar?”.
- “pai, aceita a ideia você vai ser avô” disse a futura mamãe.
Dei-lhe os parabéns meio sem jeito e incrédulo, e festejamos ali aquele momento tão especial na vida dos futuros pais; eu, confesso, continuava meio assustado.
À noite na hora de dormir, fiquei horas conversando com minha esposa sobre a nossa nova realidade, aos quarenta e sete e quarenta e seis anos, estávamos sendo promovidos da condição de pais para a condição de avós. 
Depois de horas de imaginações, pegamos no sono.
Dia vinte de setembro, dia do aniversário da minha esposa, levo minha filha ao laboratório para pegar o resultado do exame de sangue,  chega enfim a tão esperada confirmação, minha filhinha, minha primogênita, aquela que tantas vezes dormiu sobre o meu abdômen a fim de amenizar suas cólicas, aquela que teve médico particular, estudou em escola particular, aquela por quem fiz todo o possível para dar o melhor dentro dos limites possíveis, vai ser mãe...
...E nós vamos ser avós. Que susto meu Deus, somos tão novos!

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Quinze de julho de mil novecentos e sessenta e três. Nasci em Campina Grande, uma bela e promissora cidade do estado da Paraíba, de acordo com minha mãe, em parto feito em casa com a ajuda de uma parteira, por volta das dez horas da manhã. Minha mãe contava com trinta e três anos de idade. Meu progenitor não quis assumir a paternidade, nem sequer me conheceu, e minha mãe  então, tendo que trabalhar me deixou aos cuidados de uma tia; Esta tia, junto com seu marido, cuidou de mim como seu próprio filho, ela já tinha dois filhos adultos que não moravam com ela. Eu até hoje tenho muito carinho por sua pessoa.
Toda a minha primeira infância foi em sua casa, na roça. Minha memória me faz lembrar coisas como: tomar leite de vaca ou de cabra tirado na hora numa caneca feita de lata de litro de óleo de soja, - antigamente o óleo de soja vinha em latas - coalhada, angu com leite, cuscuz de milho com leite, comer quixabaalgarobapitombaumbu, típicas frutas da região. Apanhar água em lombo de burros nas cacimbas - poços naturais de água doce que nascia no meio de grandes pedregais - um milagre da natureza criada por Deus.  Buscar ovos nos ninhos das galinhas e das patas, ter ganhado uma mini-enxada para ajudar na capina da roça, ter ganhado um potrinho, ver meu tio matando carneiro para o alimento do mês, e esticando sua pele com varas de marmeleiro, um arbusto da região, e colocando para secar ao sol, havia um processo que era feito para que a pele não viesse a apodrecer, e depois de seca, esta pele era vendida ou pendurada na parede da sala, onde ficavam os silos de feijão e de milho; lembro ainda de minha tia torrando e moendo café, ou milho para fazer fubá. Lembro de uma vez que cai sobre uma pilha de algodão recém-colhido que ficava da embaixo rede onde dormia, foram bons momentos. Se fechar os olhos consigo ver claramente todas as áreas do sítio de minha tia.
Uma fato desta época ficou em minha mente de modo claro e marcante: um dia minha mãe foi me visitar e levar a ajuda financeira que sempre levava para minha tia, e algumas roupas para mim, neste dia eu queria a todo custo ir com ela, mas eu não sabia que não poderia, e fiz o maior escândalo que uma criança de três ou quatro anos sabe e pode fazer, acompanhei minha mãe até o ponto onde ela apanharia o ônibus de volta a cidade, eu estava descalço e só de calção. Em algum momento minha mãe viu ao longe o ônibus vindo, (sei disso hoje) e aparentemente “concordou” em me levar, mas para isso eu teria que voltar em casa e vestir uma camisa e calçar um chinelo, eu inocentemente aceitei a sugestão dela, e fui colocar a camisa e calçar o chinelo, voltei eufórico e correndo; para minha decepção minha mãe tinha “sumido”, minha mãe pegou o ônibus e me deixou ali, chorando aos prantos, voltei para o colo de minha tia que, carinhosamente me consolou, mais tarde vim a entender os porquês daquele terrível momento. Se foi ruim para mim imagine para minha mãe.
Algum tempo depois minha mãe foi então me buscar para morar definitivamente com ela, pelo que me lembro, eu tinha nesta época mais ou menos cinco ou seis anos de idade. A casa de minha tia era a partir deste momento então o local onde eu iria passar as férias escolares ou passear. Minha mãe agora tinha como cuidar de mim, pois havia conhecido uma pessoa, que aceitou me assumir como seu filho, esta pessoa viajava muito para as cidades de Recife e João Pessoa, e eu ficava só com minha mãe, desta época lembro-me de dois momentos; um quando minha mãe ao se preparar para passar roupas tomou um choque elétrico que a jogou a três ou cinco metros de distância; a rede elétrica em Campina Grande era ou é, de duzentos e vinte volts, e outro quando pela primeira vez chamei o marido  de minha mãe (eles não eram casados de fato) de pai, e foi engraçado porque eu no susto juntei ao titulo de pai, o nome dele, isso resultou numa forma engraçada de chamamento.
Nós fomos morar numa casa de esquina na Rua Paulo de Frotim, depois fomos morar na Rua Oito de dezembro, onde o meu padrasto havia comprado uma casa, nesta casa nasceu meu primeiro irmão, era o ano de mil novecentos e sessenta e oito, ali também comecei a estudar com uma vizinha que dava aulas em casa para um grupo de crianças, ali aprendi a ler e escrever, eu lia quase tudo que é palavra que passava na TV, as pessoas achavam o máximo as minhas tentativas de ler, desta época lembro de ficar sempre lendo os créditos dos programas de TV da época, lembro que meu padrasto me matriculou em uma escola estadual, o ingresso nesta escola era muito difícil, mas ele conhecia o diretor da escola, um juiz de menores da cidade à época; as orientadoras pedagógicas quiseram me colocar na primeira série, e ele não permitiu, exigindo que fizessem uma prova comigo, para comprovar que eu poderia tranquilamente ir direto para a segunda série, e assim foi feito, e lá fui direto para a segunda série da Escola Estadual de Ensino Fundamental de Aplicação, anexo a Escola Normal Estadual Padre Emídio Viana Correia, onde estudei a segunda e terceira séries. Uma vez voltando da escola para casa parei pra ver a montagem do circo Orlando Orfei que estava na cidade, fiquei por ali rodeando “ajudando” até que ganhei uma entrada para a estreia, minha mãe preocupada com minha demora, e eu realizando o “sonho da vida”. fui ao circo pela primeira vez, pelo meu próprio esforço.
Estávamos morando na rua Dr. Severino Cruz, pela primeira vez, foi um período muito curto. Logo nos mudamos e fomos morar no bairro chamado José Pinheiro, na rua Fernandes Vieira, a referência era o Hospital do Dr. Edgley - hoje Hospital da Criança, neste endereço nasceu meu segundo irmão, era o ano de mil novecentos e setenta; lembro que ao lado da nossa casa havia um centro de umbanda onde sempre aconteciam festas até tarde da noite, com música alta e  muito foguetório, na noite em que meu irmão nasceu - ele nasceu em parto feito em casa - aconteceria mais uma destas noites festivas, mas por respeito a minha mãe, eles não tocaram suas musicas alto, nem explodiram seus fogos, até encerraram mais cedo sua programação, e esta atitude deixou minha mãe surpresa e agradecida.
Mudei de escola e fui estudar na Escola Estadual Clementino Procópio, nesta época havíamos voltado para a rua Dr. Severino Cruz, agora por um período maior, nesta escola cursei a quarta serie, tendo sido pela primeira vez reprovado o que me levou às lágrimas em plena sala de aula. Nesta ocasião aconteceu algo marcante para mim: um belo dia vinha da escola como qualquer garoto de dez anos, brincando pela rua, chutando uma pedra aqui outra ali, quando decidi andar sobre uma mureta que há em volta do açude velho - um grande açude que existe no centro de Campina Grande - era a parte mais funda do tal açude, de repente tropecei e cai! Neste ponto do açude havia muitas gigogas, naquela época eram os presos da cidade quem executavam a limpeza do açude, primeiro virando-as de raiz para cima deixando-as morrer e secar para depois retirá-las do açude, pela graça de Deus, eu caí exatamente em cima destas gigogas, que com seus bulbos para cima não me permitiram afundar, literalmente andei sobre as águas, ninguém me viu cair e ninguém me ajudou a sair, não fosse Deus, eu teria morrido afogado e ninguém teria visto, cheguei em casa todo molhado, inclusive alguns livros. Aquelas gigogas morreram, mas me salvaram. Isso me lembra de algo!.
Nesta época havia uma vizinha evangélica, uma senhora que era cega de um olho, mas com uma visão fora de série, casada com um senhor que era um conhecido retratista (ele copiava e ampliava retratos à mão livre, um senhor artista!) de Campina Grande, este senhor era maçom e eles tinham um filho que era um dos amigos que eu tinha à época;  a casa desta senhora era nosso ponto de encontro para assistir televisão, dos quatro amigos eu era o único que não tinha televisão em casa ainda, a única exigência desta senhora era que nos domingos fossemos todos à igreja com ela, o nome da igreja era Tabernáculo Evangélico - que foi criada no espaço onde havia um restaurante chamado "enche- pança" - e todos nós íamos.
Meu padrasto sempre arrumava trabalho para mim com seus conhecidos, mas eu era um garoto muito arteiro, e uma das minhas artes foi em  mercado; ao comprar material para a lanchonete na qual trabalhava, não vi mal nenhum em colocar dentro da roupa um baralho que tanto queria, já havia feito isto uma outra vez sem problemas, mas ao sair fui abordado pelo segurança da loja, que me levou para um reservado e conversou comigo me dizendo que via ser eu um menino de família, e que eu não deveria fazer aquilo, que era errado, me tratou com muito cuidado, aquele flagrante me fez nunca mais entrar no mesmo mercado de novo e a não repetir a arte... até mais tarde...
                Nesta época nós morávamos ainda na Rua Dr. Severino Cruz e ali nasceu meu terceiro irmão, era o ano de mil novecentos e setenta e dois. Agora éramos uma família de seis pessoas, e a novela da ocasião na extinta TV Tupi era “Éramos Seis”.
Meu padrasto bebia de tempos em tempos, e quando começava a beber ele passava entre trinta a quarenta e cinco dias bebendo direto ficando em um estado lastimável, tanto moral, quanto físico e emocional, quando parava, ele tinha alucinações e devido a abstinência, ele via demônios em todos os cantos da casa, em uma destas ocasiões pedi a minha mãe para convidar aquela senhora evangélica para fazer uma oração lá em casa, para meu padrasto parar de beber, minha mãe não gostava muito de crentes, mas concordou, e assim foi feita a oração por aquela senhora e uma irmã da igreja que tocava teclado no grupo musical da igreja de nome Shallon (Paz). Meu padrasto não parou de beber nesta época, só anos mais tarde graças a Deus.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

JOSÉ DA SILVA - UM ENSINAMENTO

Boa noite a todos, a Graça do Senhor esteja sobre suas vidas, o meu nome é José da Silva, eu tenho 86 anos de idade, e quero compartilhar com vocês um pouco da minha experiência.
Buscarei ser sucinto e objetivo na minha palavra, quero, porém começar a minha fala, com uma frase que descreve muito bem o meu estilo de vida e minha condição atual, esta frase diz o seguinte:
 “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem todo o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, se esquecem de viver o presente, de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido”.
Esta frase reflete muito bem a minha situação atual e a vida que vivi, até me encontrar com Jesus. Durante toda a minha vida ativa, eu trabalhei e trabalhei muito, eu tinha um único objetivo, conquistar tudo o que sempre desejei e sonhei tudo aquilo que entendia ser imprescindível e que acreditava não poder abrir mão, que era meu por direito.
Eu acreditava que estava no mundo somente para viver a vida e curtir tudo o que ela pudesse me oferecer, e eu fiz exatamente isso, com todas as minhas forças eu trabalhei muito para construir um futuro seguro e estável, e realmente eu alcancei muitas coisas, eu conquistei tudo o que o meu coração desejou. Eu me capacitei, empreendi e graças aos meus esforços me tornei alguém de muito sucesso no que fazia e empreendia e assim, fui cada dia conquistando mais coisas, muitos bens, muitos imóveis, muitos carros, muito dinheiro, muitas viagens mundo a fora, eu viajei para quase todas as grandes cidades e países do mundo, tudo que o meu coração desejava eu alcancei e fiz, também tive todos os amigos que o dinheiro é capaz de nos dar, amigos que estiveram comigo em todo o tempo da juventude, amigos que eram interesseiros, que se diziam meus amigos, mas que me abandonaram na hora da necessidade, também conquistei muitas mulheres, em cada viagem que fazia muitas vezes sozinho, eu tive muitas mulheres, fui casado por muitos anos, com uma bela mulher, mas nunca valorizei minha esposa da mesma forma que valorizava as outras mulheres que amavam o que eu podia proporcionar, para minha esposa eu nunca deixei faltar nada do que era necessário e nem mesmo todo o bem estar que o dinheiro pode dar, enquanto curtia a vida e esbanjava com as outras. Choro não ter ela comigo hoje.
Eu vivi a minha vida buscando e amealhando riquezas, eu vivi curtindo aquilo que entendia como o melhor que a vida pode me dar, hoje eu sou um homem rico, muito rico, ainda tenho muitas posses e bens, eu tenho muito dinheiro, mas hoje tudo o que eu tenho todos os meus bens, todos os meus recursos, todo o meu dinheiro, têm um só objetivo, me manter vivo, recuperar a saúde que perdi como resultado da vida que levei, das noitadas com os amigos que julgava serem meus amigos, mas que me abandonaram, e com as mulheres que amavam meu dinheiro e que também se foram, da bebedice, do fumo, e de outras extravagâncias que cometemos quando somos jovens, e não temos Jesus como Senhor da vida. Os meus bens e todos os meus recursos têm como objetivo ao menos me proporcionar uma boa qualidade de vida nos dias que me restam.
Hoje eu sou um homem muito doente, terrível e mortalmente doente, estou fazendo um tratamento muito forte que me agride de forma muito violenta, esta é a razão pela qual tenho que usar estas luvas, as minhas unhas estão caindo e as pontas dos meus dedos ficam excessivamente sensíveis e vulneráveis a bactérias.
Aos 86 anos de idade ando meio nostálgico, triste, ao ver a vida acabar aos poucos, e por isto a minha palavra tem um sabor de saudade que é o sentimento de impotência diante do tempo que não volta atrás, Ah! Se eu pudesse voltar no tempo, e abraçar as pessoas das quais me afastei; esta minha palavra tem um gosto de adeus que é momento em que perdemos parte de nós mesmos e nos arrebentamos por dentro, porque que eu fui embora sem ao menos dizer que amava os meus pais; esta minha palavra tem um cheiro de abandono que se mostra quando estamos rodeados de gente e ainda assim nos sentimos sozinhos no mundo, onde estão os meus filhos que não me visitam mais.
Nesta fase da minha vida eu consegui entender o significado do alerta das escrituras que diz em Eclesiastes, “Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, dos quais venhas a dizer, não tenho neles prazer”, os meus maus dias já chegaram, e eu não tenho nenhum prazer neles, porque que eu não dei ouvido a este alerta das escrituras, porque não me entreguei completamente a Jesus ainda na minha adolescência quando tive a oportunidade de fazê-lo. A vida é cheia de escolhas, e temos que arcar com o resultado de cada uma das escolhas que fazemos, sejam elas boas ou más, hoje colho as consequências das escolhas que eu fiz, há pouco tempo descobrimos outra área do meu corpo atingida pela doença que me consome e estamos tentando combater antes que se propague ainda mais.
Há pouco tempo atrás, no que resta da minha vida, eu fui apresentado a Jesus, e eu o conheci, eu me encontrei com Jesus, Jesus é a coisa mais maravilhosa que eu vivi e que me aconteceu, todas as minhas conquistas, todos os meus bens e dinheiro, todas as festas, todos os amigos e mulheres, todas as viagens que fiz as cidades e países que conheci, nada, nada se compara a experiência que tive ao encontrar Jesus, ao conhecê-lo entendi que tudo que eu conquistava não era por mero esforço, empreendedorismo ou capacidade pessoal, mas era a bondosa mão de Deus sobre minha vida, mesmo sem que eu o conhecesse. Assim como diz no profeta Isaías, “Eu Sou o Senhor, e não há outro, fora de mim não há Deus; eu te cinjo (estarei ao seu redor), ainda que tu não me conheças. Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro, EU Sou o Senhor, e não há outro”.
Não há nada que eu tenha vivido que possa ser comparado ao que tenho encontrado em Jesus, em Jesus eu tenho a paz em meio ao meu caos, em Jesus eu tenho calma em meio ao temporal, em Jesus eu me sinto seguro em meio a minha insegurança, Jesus é a minha certeza em meio às minhas incertezas, Jesus tem sido o meu tudo em meio ao meu nada, Jesus é a cura na minha enfermidade, mas se, todavia Ele não me curar eu verei a sua glória, pois estarei com Ele, e já estou me preparando para isto.
Hoje eu estou velho e cansado, não tenho mais vigor nem a juventude de muitos de vocês, vocês têm a força e o vigor para entregar a Jesus, muitos de vocês ainda são muito jovens, eu não tenho nada a não ser o resto da minha vida, eu não sei quanto tempo ainda me resta Deus o sabe, imagino que sejam poucos os meus dias, e o que tenho para dar a Jesus, o resto, o resto da minha vida, eu era jovem e eu não queria saber de Jesus, eu tinha muita força e vigor, eu tinha muito potencial que poderia ser usado no reino de Deus, mas eu não quis, eu ouvi varias vezes a respeito de Jesus e do seu amor, muitas pessoas me falaram de Jesus, mas eu não acreditava, eu escolhi e decidi viver a minha vida de qualquer maneira, seguindo os caminhos enganosos do meu coração, quando eu chegar diante de Deus não tenho o que apresentar se não as minhas mãos vazias, eu gastei a minha juventude, minha força, o meu vigor e o meu melhor na busca pelas riquezas deste mundo, que hoje sei são apenas vaidades, Quando eu chegar diante de Deus as minhas mãos estarão vazias, as minhas mãos estarão vazias, porque eu gastei a minha vida correndo atrás de taças vazias, de taças vazias.
Hoje percebo que com todos os meus bens e recursos, vocês são muito mais ricos do que eu, vocês têm a oportunidade de fazer diferente, vocês têm a possibilidade de vida pela frente, portanto deem sua juventude, seu vigor, sua força e o seu melhor para Deus. Sigam a orientação da bíblia que diz: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele e o mais Ele fará” e ainda “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”, a questão esta na prioridade, naquilo que nós colocamos em primeiro lugar em nossas vidas. Vivam a vida com Jesus e para Jesus, vivam uma vida que seja agradável a Deus, aproximem-se de Deus e ele se aproximará de vocês, convidem Jesus para ser o seu Salvador e o seu Senhor, pois Ele morreu por você para que você tivesse vida com Ele, entreguem o seu melhor para Jesus.
Se eu pudesse eu trocaria todos os meus bens, eu daria tudo, todas as minhas riquezas e os meus bens pela juventude de qualquer um de vocês, só para ter a oportunidade de oferecer o meu melhor para Jesus e para viver uma vida que agrade a Deus, hoje, na minha velhice e fragilidade eu tento e queira Deus eu consiga com o que resta da minha vida agradar, a Deus.
 Ah! Se eu pudesse voltar atrás, eu daria tudo o que tenho para viver uma vida que agrada a Deus, Ah! Se eu pudesse voltar atrás, eu amaria mais, eu diria aos meus pais que os amava, eu deveria ter dito. Eu seria um marido melhor, a única vez que disse que amava minha esposa, foi no dia do casamento. Eu me dedicaria mais aos meus filhos e os veria crescer, dei-lhes tudo menos minha presença, e agora entendo porque eles não veem me visitar, nem meus netos se importam comigo. Eu usaria menos as pessoas, eu perdoaria mais os erros dos outros e pediria mais perdão pelos meus próprios erros.           
Ah! Se eu pudesse voltar atrás...

Ah! Se eu pudesse voltar atrás...

Ah! Se eu pudesse voltar atrás...


Ah! Se eu pudesse voltar atrás...


Esta poderia ser muito bem uma história real, mas, se trata de ficção, sem no entanto tirar os pés da realidade vivida por muitas pessoas neste tempo, talvez você conheça alguém que tenha vivido exatamente como o Sr José da Silva.
ideia central desta história, não é por lagrimas nos olhos ou mexer com suas emoções, mas, tenta esta história levantar questionamentos sobre dois pontos palpáveis; até que ponto o materialismo com seus benefícios nos suprem, e a nossa necessidade de uma fé viva em um Deus vivo, pessoal e real.
Óbvio que por se tratar de um blog de uma pessoa que professa a fé cristã, seja a partir deste prisma aquilo que ora passo a explanar: 
Vivemos em dias em que se vale quanto se tem, por esta razão, as pessoas buscam até de forma doentia a conquista egoísta e não inclusiva, o mundo contemporâneo está estabelecido e baseado num tripé que se apresenta como ilustro abaixo:

eu
eu eu
eu eu eu
eu eu eu eu 

Esta forma de pensar é extremamente egoísta e doentia, pois não enxerga no outro suas dores e necessidades, isto fere de forma grosseira a orientação divina de amar ao próximo como a si mesmo, e neste caso precisamos entender que ao amar o próximo como a nós mesmos, temos suprimentos para os nossos anseios, as nossas dores são saradas, as tristezas são aliviadas, as mágoas consoladas, a solidão se desfaz, as incertezas se calam e experimentamos a real presença de Deus, algo que todas as riquezas do mundo jamais serão capazes de suprir, você já ouviu com certeza testemunhos de variadas pessoa que ao dedicarem parte de seu dia no serviço ao próximo sentem se melhores, em suas próprias dores e angustias, por esta razão penso ser este momento de repensarmos esta busca desenfreada para saciar o nosso egoísmo doente e carente de Deus.  
O ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, tem intrínseca em sua natureza a necessidade de crer, embora relute com todas as suas forças e até creia ou negue a existência de Deus, o fato principal portanto a ser apontado é: DEUS existe quer creiam ou não, a divindade não depende de que eu ou você creia que Ele existe para de fato existir, Deus o supremo criador do universo e de todas coisas existe, é real, é pessoal, embora invisível aos nosso olhos, penso que por causa da sua misericórdia infinda ele não se permite ver por pessoas pecadoras como o somos pois quem há que possa resistir à sua glória e santidade, neste corpo vil e pecador!!
Deus o pai em sua soberania e onipotência, sabendo dos desvios que cometeríamos providenciou uma grande salvação, e isto é para todos, na pessoa de Jesus o seu filho que veio ao mundo para nos testemunhar do amor do Pai por cada um de nós, precisamos então compreender esta ação divina e aceitar o sacrifício feito em nosso favor caso contrario nunca veremos ao pai, a despeito dos nossos atos de bondade ou religiosidade.
O Sr José da Silva em sua velhice encontrou em Deus através de Jesus, aquilo que jamais encontrou em sua busca egoísta, nem na suas posses e bens, agora já velho e adoecido não tem mais ilusões mas a certeza da presença de Deus que o conduzira em vitória até o dia de Cristo Jesus, quando terá o seu nome lido e chamado "vinde bendito do Senhor e entra no gozo do Seus Senhor, que lhe esta preparado desde a fundação do mundo", que nós não esperemos até nos encontrarmos na situação de vida dele, e compreendamos que a maior riqueza do homem não é o que conquista mas o que deixa como legado e isto não é material. Alguém já disse que o essencial é invisível aos olhos.
Deus nos abençoe em Jesus Cristo.

Até............